05/06/2011

Caça à multa?

O agente autuante é sempre o elo mais fácil de criticar, porque somos incapazes de reconhecer erros

Com alguma frequência saltam à vista nas páginas dos jornais queixas e criticas de alguns cidadãos àquilo que erradamente definem como "caça á multa", resultado de uma mais rigorosa fiscalização rodoviária por parte das entidades policiais com competência para essas funções, como é o caso da PSP.
Antes de mais importa desde já esclarecer que para o agente autuante não resulta nenhum beneficio financeiro em sequência do exercício das suas funções fiscalizadoras ao cumprimento das normas do Código da Estrada, ao contrário do que, erradamente, ainda julgam alguns cidadãos, sendo até comum ouvir-se dizer que a actividade fiscalizadora rodoviária se acentua em determinados períodos do ano, nomeadamente em Dezembro, alegando-se assim que os profissionais de policia procuram com isso engordar o seu subsidio de Natal. É um mito que ainda nos dias de hoje circula como se de uma verdade se tratasse. No entanto trata-se apenas de uma enorme mentira, que, embora repetida tantas vezes, nunca algum dia foi verdade.
A expressão "caça à multa" por vezes funciona como um guardanapo para limpar uma certa tendência para transgredir, tentando-se assim atirar o odioso da autuação para cima do agente autuante. Esse é que não foi tolerante, não foi consciencioso, não teve bom-senso, até nem foi justo porque o autuado aufere um ordenado miserável e tem muitos filhos para alimentar. etc. Como que se os cidadãos que ganham ordenados de miséria e com muitos filhos tivessem uma liberdade para transgredir diferente dos outros cidadãos que não se incluem nessas condições. Pelo contrário: os cidadãos de parcos recursos deverão chamar a si uma responsabilidade acrescida e proporcional ás suas condições sociais. Dura Lex Sed lex.
O agente autuante é sempre o elo mais fácil de criticar, e isso só acontece porque somos incapazes de reconhecer os nossos próprios erros e corrigi-los. Somos até algo críticos com as transgressões alheias mas muito tolerantes e pacíficos com a nossa própria tendência para ultrapassar os limites balizados nas leis rodoviárias, achando sempre que até nem havia motivo para autuação, porque não prejudicámos ninguém, porque foram só 2 minutos, porque a estrada até tem condições para se circular a 200Km/hora, porque nos julgamos os melhores condutores do mundo, porque até só bebemos uma poncha e nada mais, porque o carro que possuímos é do melhor que há no mercado, etc, etc.
Ao invés de "caça à multa" parece-me mais adequado falar-se em "caça á infracção". Isso sim, e nesse capitulo a Policia de Segurança Pública exerce, com toda a legitimidade, as suas funções. Entre um condutor transgressor e um agente de policia autuante não tenho duvida nenhuma em apoiar o segundo em detrimento do primeiro. E creio que todos os cidadãos zelosos, cumpridores, respeitadores das regras em sociedade, alinharão comigo nesta discussão. Aos restantes eu diria: "Cuidado, pode estar ali a Policia".
O principio da transgressão fútil, baseada apenas no desafio ás regras em sociedade, não abona a favor de ninguém, e talvez por isso muito do desrespeito ás normas rodoviárias sejam resultado de uma cultura desafiante, ousada, para impor comportamentos marginais, para provar o fruto proibido, por desleixo, etc. Convenço-me que, por exemplo, uma fatia considerável de cidadãos que colocam o cinto de segurança, fazem-no, mais motivados pelo receio de se cruzaram ali á frente com a Polícia do que conscientes de que esse simples gesto contribui sobremaneira para elevar os índices de segurança para si e para os eventuais ocupantes da viatura. E enquanto o nosso comportamento for guiado por estas motivações jamais seremos exemplo de cidadania.
Também é certo que estes "odiozinhos de estimação" que muitos cidadãos nutrem pelos agentes de policia é resultado das contrariedades que as funções destes provocam àqueles.
Também nunca ouvi elogios aos fiscais camarários, nunca ouvi elogios aos fiscais das finanças, etc.
Quem tem funções de fiscalização e autuação viverá sempre com uma aura odiosa em seu redor, mais isso é algo com que os policias já aprenderam a viver. Até porque no preciso momento em que um qualquer agente da Policia está a levantar um auto de transgressão, muitos outros agentes se encontram em missões melindrosas, com risco para a própria vida, em prole da segurança dos cidadãos e da causa pública que um dia abraçaram.
E é por isto que o peso daquela farda ao mesmo tempo que oferece tantos dissabores concede também o orgulho de ser Polícia.

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