Henrique Raposo (www.expresso.pt) |
Qual é o problema deste Governo? Anda a fazer cortes cegos em todos os cantos do Estado. Vai tudo a eito. Como é fácil de perceber, estes cortes burocráticos atingem os serviços dispensáveis e os serviços indispensáveis, atingem os justos e os pecadores. Por outras palavras, o PS não tem coragem para fechar serviços e órgãos do Estado que estão a mais. O PS não tem coragem para separar o trigo do joio, não tem coragem para enfrentar as clientelas que vivem atreladas às 14 mil entidades "públicas". O Governo está a cortar 5% a 10% nos salários de todos os funcionários, quando devia diminuir 5% a 10% o número de funcionários. Há aqui uma diferença. É a diferença entre a cobardia burocrática e a justiça política. Nós não devemos cortar em todo o lado de forma cega. Devemos, isso sim, repensar o Estado, com o objetivo de proteger as áreas e os funcionários indispensáveis.
Um exemplo: as polícias estão a enfrentar sérios problemas financeiros. Há dias, ficámos a saber que os salários da GNR e da PSP andam tremidos , e que não há dinheiro para pagar horas extraordinárias em condições aos agentes da PJ . Ora, confesso que fico, vá, arreliado quando vejo uma polícia a fazer uma greve. Confesso que fico, digamos, irritadinho quando vejo uma associação (ie, um sindicato) de polícias. Porque um polícia não é um funcionário público(um assunto para outra conversa ). Mas, verdade seja dita, as nossas polícias têm razão nos seus protestos. O Estado está a descurar a sua primeira função hobbesiana: manter a segurança dos seus cidadãos. Estamos a falar da polícia, da segurança, uma função que só pode ser desempenhada pelo Estado. Aqui não pode haver privados, nem pode existir uma ADSE aplicada à segurança. Isto é uma função exclusiva do Estado. Mas, como está espalhado por todo o lado, o nosso Estado começa a descurar esta função nuclear. Damos dinheiro a 600 fundações obscuras, e, depois, não temos dinheiro para pagar em condições as nossas polícias. Que sentido é que isto faz? Essas 600 fundações são todas indispensáveis?
Se não estou em erro, um jovem agente da PSP só ganha 700 euros. 700 euros, meus amigos. Isto é um embaraço. No fundo, nós andamos a dizer o seguinte ao jovem polícia: "olhe, amiguinho, vá ali defender-me, e, em troca, toma aqui esta esmola de 700 euros". Nós, a comunidade política, devíamos dar melhores salários aos polícias (e a outros serviços nucleares). Sucede que - antes disso - é preciso limpar o Estado. É preciso acabar com os serviços que estão a mais. É preciso dispensar os funcionários que estão a mais. Se não houver coragem política para fazer isto, os justos continuarão a pagar pelos pecadores.
PS: neste sentido, uma pergunta: para quando um debate sério sobre a fusão entre GNR e PSP? Não andamos a duplicar funções e burocracia dentro da própria polícia? A GNR não podia ser fundida na PSP? Não me venham com orgulhos históricos e não sei quê. Os tempos não estão para luxos memorialistas.
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