Viaturas compradas por ocasião da Cimeira da NATO saíram, em média, uma vez a cada quatro meses. Compra foi muito contestada na altura.
Um ano após terem chegado a Portugal, os dois veículos blindados da PSP apenas foram utilizados em três ocasiões - e sempre de modo preventivo. Deslocou-se um carro uma vez à Amadora, noutra ocasião foi a Odivelas e, por fim, na missão mais distante, viajou até Setúbal. A média de uma saída a quatro meses, dizem alguns dos principais sindicatos daquela polícia, prova que a compra foi "descabida" e "era de evitar".
Comprados por ocasião da Cimeira da NATO, que se realizou em Novembro do ano passado, em Lisboa, os dois blindados acabaram por não chegar a tempo. Estavam retidos num aeroporto canadiano, à espera que as condições meteorológicas os deixassem viajar. Quando chegaram, já o evento tinha terminado.
Outros quatro veículos iguais, apalavrados negocialmente entre o Ministério da Administração Interna (MAI) e a empresa importadora, a Milícia, sediada no Porto, nunca mais chegaram a Portugal, descartados que foram pelo então ministro Rui Pereira, à altura alvo de enorme contestação devido a uma compra que todos consideraram descabida. Os seis blindados acordados, assim como algum outro material para protecção individual, custariam cinco milhões de euros, dinheiro esse que o MAI foi buscar ao Governo Civil de Lisboa. Cada blindado custou 170 mil euros mais IVA.
"O facto de os carros só terem saído três vezes prova que a sua compra não era necessária. Que, se calhar, tendo em conta as dificuldades financeiras da polícia e do país, era de evitar", disse ao PÚBLICO o presidente do Sindicato dos Profissionais da Polícia (SPP), António Ramos.
A mesma opinião é partilhada pelo presidente da Federação Nacional de Polícias (Fenpol). Para Pedro Magrinho, que diz ainda hoje ter dúvidas em relação aos contornos do negócio, os "blindados são uma mais-valia, mas, face ao anterior e actual contexto financeiro da PSP, nunca poderiam ser considerados uma prioridade". "Prioridade", diz o presidente do Sindicato Unificado da Polícia (SUP), Peixoto Rodrigues, "são equipamentos de protecção bem mais primários, como sejam os coletes balísticos para todos os polícias ou capacetes com viseiras".
António Ramos salienta, por outro lado, que os locais de utilização dos blindados (junto ao bairro 6 de Maio, na Amadora; num bairro degradado de Odivelas; e no Bairro da Bela Vista, em Setúbal) são zonas que "necessitam mais de acção social do que acção policial". "O que mais importa, tal como o actual ministro já disse, é que se olhe mais para as pessoas que ali habitam e que não se dê tanta importância à repressão."
Nas três ocasiões em que as viaturas foram chamadas a operar, nunca a equipa de polícia especial transportada no interior (dois condutores mais um grupo de, pelo menos, oito elementos) teve de intervir. Os carros foram para os locais (ou para as suas imediações, porque em alguns dos bairros não existem estradas por onde circular) porque possuem características antibala e à prova de fogo.
Arresto pendente: polícias exigem 1,4 milhões do MAI
Existe um pedido de arresto pendente no Tribunal Administrativo de Lisboa relativo aos dois blindados entregues à PSP. O pedido foi feito pelo Sindicato Nacional da Polícia (Sinapol) que, desse modo, pretende ter uma garantia de que a PSP vai pagar cerca de 1,4 milhões de euros que foram retirados do Fundo de Fardamento dos seus efectivos. O PÚBLICO sabe que esse montante deverá ser pago ainda durante este mês. No entanto, o Sinapol exige igualmente o pagamento de cerca de 180 mil euros em juros de mora.
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