O texto abaixo eu “roubei” (com a devida permissão do autor) da comunidade no orkut da PMRN. Bom humor para lidar com as situações mais inusitadas do serviço policial e melhor ainda, saber contá-las depois.
Deus tira multa?
- E já é lei? Desde quando?
Foi assim que um cidadão espantado me indagou quando lhe pedi que colocasse o cinto de segurança.
- O senhor é habilitado? – Perguntei educadamente.
- Dirijo há mais de 20 anos – me respondeu com um ar de arrogância.
- Então porque o senhor não usa o cinto de segurança?
- É o calor!
Achei a resposta um pouco vaga e fiquei me perguntando como uma tira de 8 centímetros de largura poderia matar alguém de insolação.
- Mas senhor, é para sua segurança!
- Meu filho eu sei, mas não tem fiscalização… E você sabe… – Sei o que? E se não tem fiscalização o que é que eu sou? Será que o problema ta na farda? “Talvez uma melancia no pescoço ajude, o truque da melancia no pescoço nunca falha”
-Senhor use o bom senso!
-Ta certo meu filho, vai me multar?
-Não senhor, estou apenas advertindo para que não cometa o mesmo erro outra vez.
- Muito obrigado! – Disse – e saiu sem por o cinto.
Trabalhar no setor de trânsito faz com que diariamente me depare com esse tipo de situação, porém, o que mais me admiro é da criatividade ou da total falta dela em muitas dessas ocasiões por parte dos condutores. Eu mesmo não sabia que o código de trânsito estava subordinado a várias outras leis que o anulam completamente. Vejamos por exemplo a lei do “Bem Ali”. Caso você seja apanhado trafegando em sua motocicleta conduzindo um passageiro sem capacete basta usar a lei do “bem ali” que diz no parágrafo II, inciso IV que: Todo condutor tem o direito de trafegar em seu veículo da maneira que bem entender desde que seu local de destino seja: Bem Ali, Acolá ou só até aqui. A lei também é válida se o condutor veio de uma distância igual ou menor do que “daqui de pertim”. No que diz respeito à motocicleta a lotação excedente é uma das campeãs em desculpas estranhas.
- O senhor tem conhecimento que é proibido trafegar com mais de um passageiro em sua moto, não tem? – perguntei ao mototaxisista.
- É que o “bichim” ta doente e a gente vem do hospital.
- Quem é que ta doente mãe? – O menino espantado perguntou olhando para mãe.
- Cale a boca menino, você não sabe de nada! – Ora, se ele não estava doente, com certeza a surra que ele iria levar quando chegasse em casa o deixaria.
Certa vez um condutor flagrado com suspeitas de embriaguez disse que negava-se a fazer o “marfômetro”, bem, na concepção dele talvez beber água do mar seja crime. Outro dia uma senhora revoltada me indagou em um cruzamento – porque os “transuentes” nunca tinham a vez na faixa de pedestres? – talvez porque a faixa seja para os transeuntes, pensei.
Outra coisa que me intriga é não saber a medida exata de “um minutinho”, estrelas no céu, gotas de água no mar, a extensão do universo, nada disso se compara ao incalculável minutinho . “policial, vou deixar o carro aqui só um minutinho”. Pronto! Foi-se a ordem natural das coisas. Um dia tem 24 horas, um ano tem doze meses e a copa é a cada quatro anos, mas a porcaria do “minutinho” ninguém sabe.
- Algum problema meu filho? – disse um senhor parado em uma blitz na divisa entre o RN e a PB.
- A placa da moto do senhor ainda é amarela!
- Gostou? Fui eu que fiz. – proferiu me fitando com orgulho. Seria uma imbecilidade perguntar se aquele simpático “artesão” de idade avançada tinha carteira de habilitação, respirei fundo, pensando em uma forma de repreendê-lo, porém a única coisa que me vinha à cabeça era “fui eu que fiz”.
O que me motivou a escrever sobre essas situações excêntricas no meu trabalho foi saber que na hora do aperto vale até apelar pra Deus, só pra ver se ele dá uma forcinha, pois quando um cidadão flagrado transportando seu passageiro sem capacete implorou para que meu comandante de guarnição não fizesse a notificação porque era sábado de aleluia, eu não sustentei a postura de militar e caí na risada. O mandamento é guardai os dias santos e não, não multarás em dias santos. Há dezenas de situações como essas no nosso dia-a-dia de policial de trânsito e são essas situações que tornam esse trabalho tão especial. Gostou? “Fui eu que fiz”.
Adriano Araújo, policial militar do Rio Grande do Norte, lotado no 3º DPRE
- E já é lei? Desde quando?
Foi assim que um cidadão espantado me indagou quando lhe pedi que colocasse o cinto de segurança.
- O senhor é habilitado? – Perguntei educadamente.
- Dirijo há mais de 20 anos – me respondeu com um ar de arrogância.
- Então porque o senhor não usa o cinto de segurança?
- É o calor!
Achei a resposta um pouco vaga e fiquei me perguntando como uma tira de 8 centímetros de largura poderia matar alguém de insolação.
- Mas senhor, é para sua segurança!
- Meu filho eu sei, mas não tem fiscalização… E você sabe… – Sei o que? E se não tem fiscalização o que é que eu sou? Será que o problema ta na farda? “Talvez uma melancia no pescoço ajude, o truque da melancia no pescoço nunca falha”
-Senhor use o bom senso!
-Ta certo meu filho, vai me multar?
-Não senhor, estou apenas advertindo para que não cometa o mesmo erro outra vez.
- Muito obrigado! – Disse – e saiu sem por o cinto.
Trabalhar no setor de trânsito faz com que diariamente me depare com esse tipo de situação, porém, o que mais me admiro é da criatividade ou da total falta dela em muitas dessas ocasiões por parte dos condutores. Eu mesmo não sabia que o código de trânsito estava subordinado a várias outras leis que o anulam completamente. Vejamos por exemplo a lei do “Bem Ali”. Caso você seja apanhado trafegando em sua motocicleta conduzindo um passageiro sem capacete basta usar a lei do “bem ali” que diz no parágrafo II, inciso IV que: Todo condutor tem o direito de trafegar em seu veículo da maneira que bem entender desde que seu local de destino seja: Bem Ali, Acolá ou só até aqui. A lei também é válida se o condutor veio de uma distância igual ou menor do que “daqui de pertim”. No que diz respeito à motocicleta a lotação excedente é uma das campeãs em desculpas estranhas.
- O senhor tem conhecimento que é proibido trafegar com mais de um passageiro em sua moto, não tem? – perguntei ao mototaxisista.
- É que o “bichim” ta doente e a gente vem do hospital.
- Quem é que ta doente mãe? – O menino espantado perguntou olhando para mãe.
- Cale a boca menino, você não sabe de nada! – Ora, se ele não estava doente, com certeza a surra que ele iria levar quando chegasse em casa o deixaria.
Certa vez um condutor flagrado com suspeitas de embriaguez disse que negava-se a fazer o “marfômetro”, bem, na concepção dele talvez beber água do mar seja crime. Outro dia uma senhora revoltada me indagou em um cruzamento – porque os “transuentes” nunca tinham a vez na faixa de pedestres? – talvez porque a faixa seja para os transeuntes, pensei.
Outra coisa que me intriga é não saber a medida exata de “um minutinho”, estrelas no céu, gotas de água no mar, a extensão do universo, nada disso se compara ao incalculável minutinho . “policial, vou deixar o carro aqui só um minutinho”. Pronto! Foi-se a ordem natural das coisas. Um dia tem 24 horas, um ano tem doze meses e a copa é a cada quatro anos, mas a porcaria do “minutinho” ninguém sabe.
- Algum problema meu filho? – disse um senhor parado em uma blitz na divisa entre o RN e a PB.
- A placa da moto do senhor ainda é amarela!
- Gostou? Fui eu que fiz. – proferiu me fitando com orgulho. Seria uma imbecilidade perguntar se aquele simpático “artesão” de idade avançada tinha carteira de habilitação, respirei fundo, pensando em uma forma de repreendê-lo, porém a única coisa que me vinha à cabeça era “fui eu que fiz”.
O que me motivou a escrever sobre essas situações excêntricas no meu trabalho foi saber que na hora do aperto vale até apelar pra Deus, só pra ver se ele dá uma forcinha, pois quando um cidadão flagrado transportando seu passageiro sem capacete implorou para que meu comandante de guarnição não fizesse a notificação porque era sábado de aleluia, eu não sustentei a postura de militar e caí na risada. O mandamento é guardai os dias santos e não, não multarás em dias santos. Há dezenas de situações como essas no nosso dia-a-dia de policial de trânsito e são essas situações que tornam esse trabalho tão especial. Gostou? “Fui eu que fiz”.
Adriano Araújo, policial militar do Rio Grande do Norte, lotado no 3º DPRE
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