Num subúrbio lisboeta, preparam-se dois espectáculos em que a memória de José Carlos Ary dos Santos será evocada. A base de trabalho da Rua da Saudade são as canções que lhe valeram um disco de platina, por vendas superiores a 20 mil exemplares. Hoje, a Rua da Saudade desce ao Coliseu dos Recreios, em Lisboa. Daqui a uma semana, é a vez da sala homónima do Porto. A digressão prossegue depois pelo País.
http://www.youtube.com/v/yUyhx0LGhTM
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Ao todo, são 17 músicos em palco, já contando com o "maestro", o produtor Renato Júnior, e as vocalistas Susana Félix, Mafalda Arnauth, Viviane e Luanda Cozetti. Os ensaios decorrem há duas semanas numa verdadeira "fábrica do espectáculo" situada em Queluz em que a primeira imagem é a da entourage Custom Circus, uma espécie de cruzamento entre a Fura Del Baus e a arte circense de rua.
http://www.youtube.com/v/7tcTrOq_vao
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"Tem sido um trabalho que implica... trabalho. As pessoas têm aquela ideia romântica dos artistas que chegam lá e têm o concerto ganho, mas há todo um esforço prévio. Tem sido nota a nota, compasso a compasso, para que os concertos de sexta-feira e os outros sejam um momento com uma palavra antiga de que eu gosto muito: dignidade." A citação é de Susana Félix e reflectem a convicção com que as palavras de Ary foram interiorizadas. "Tem havido uma redescoberta de Ary", arrisca Viviane. "Quando as pessoas voltaram a falar dele, parece que encontraram qualquer coisa de Ary dentro delas", continua Luanda Cozetti. "É a frontalidade. Ele era muito duro. Era um poeta sem grandes floreados, um provocador. Nós ficámos com a sensação de que afinal podemos dizer isto e isso é muito bom. Somos um país de gente livre que ainda não gozou a liberdade", continua Susana Félix. E, como é a quatro vozes que o diálogo se trava, Mafalda Arnauth termina o pensamento com uma citação: "Nunca é tarde nem cedo para quem se quer tanto."
Para além das canções do disco, podem esperar-se surpresas. E uma delas será, com toda a certeza, a soma de canções com a chancela de Ary dos Santos ao alinhamento do álbum que, segundo as próprias, será reproduzido na íntegra. Além dos instrumentos tradicionais do rock, está presente uma secção de metais, um percussionista e, em alguns momentos, um violino. As cantoras terão flores no palco.
De resto, todas concordam que "as palavras do poeta permanecem actuais", e como, mas se Ary é presente e futuro, o mesmo poderá não ser dito de um possível segundo volume de "recriações", possivelmente com os temas que serão interpretados ao vivo e não constaram da gravação original. "Chegar aqui e redescobrir mais música a pensar no palco já é uma sensação única", avança Mafalda Arnauth, habituada a outros fados. "Todas estamos numa fase muito produtiva. De futuro, não percebo nada", acrescenta Susana Félix. "Gosto muito do já e do agora", oferece Mafalda Arnauth para resposta-tipo a esta questão, entre risos das outras três parceiras. No fim, sobra apenas uma certeza das palavras (com sotaque) de Luanda Cozetti. "Vamos continuar a 'aryzar' por aí."
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