29/03/2010

Licenciados na PSP: “os mal amados”

O número de licenciados na Polícia de Segurança Pública (PSP) tem vindo a aumentar nos últimos anos. Muitos frequentavam já a universidade aquando a sua entrada na corporação, sendo igualmente comum o ingresso no Ensino Superior após algum tempo de exercício da actividade policial. Este aumento tem-se ficado a dever mais à massificação do acesso ao Ensino Superior, registada no País a partir do fim da década de 80, do que aos incentivos dados pela instituição policial.      

Constituindo uma mais-valia inegável, a PSP persiste teimosamente em não demonstrar grande interesse em enquadrá-los profissionalmente de acordo com as suas áreas de formação que, na sua globalidade, se apresentam de vital importância para a instituição. Embora alguns deles (muito poucos) tenham conseguido esse enquadramento, obtendo a sua reclassificação profissional (passando para o quadro de funções não policiais – categoria de Técnico Superior), o certo é que a grande maioria continua a não ser aproveitada.   

Tal situação, para além de acarretar consequências negativas para estes elementos, nomeadamente desmotivação, desinteresse, etc., é também prejudicial para a própria corporação. De facto, é de lamentar ver efectivos licenciados nas mais diversas áreas (Sociologia, Psicologia, Direito, etc.), exercendo funções idênticas às dos restantes elementos que não possuem qualquer formação académica. Inteiramente subaproveitados. Para cúmulo, isto acontece numa instituição que tão necessitada está de recursos humanos qualificados (única forma de conseguir dar resposta adequada às novas exigências). Nos dias de hoje, nenhuma organização se pode dar ao luxo de esbanjar os seus recursos humanos qualificados. A PSP fá-lo, não compreendendo que deste modo é ela própria que perde, e, por arrastamento, toda a sociedade. 

As causas desta má política advêm sobretudo da mentalidade militarista que continua a prevalecer na corporação e que durante muitos anos esteve mesmo formalmente inscrita nos seus estatutos. Esta não vê com bons olhos que um seu membro com formação superior, e que ocupa um posto hierárquico inferior, possa vir a desempenhar funções que o venham a colocar ao nível ou mesmo acima dos seus superiores hierárquicos. Mais do que o aspecto funcional, prevalece aqui a vertente hierárquico-militar. Daí que se ignore estes agentes, sempre com o receio de que possam vir a subir na carreira sem seguir os passos há décadas estatutariamente definidos. O que se pretende é que o elemento, independentemente de sua formação, se limite à sua posição de inferior hierárquico e não questione, nem reflicta sobre as ordens superiores.

Publicamente reconhecidos pela superstrutura policial como uma mais-valia (este é o discurso politica e socialmente correcto), o certo é que internamente os licenciados continuam a ser encarados como potencial ameaça à sobrevivência do sistema existente. Sentindo na pele toda esta situação, e cada vez mais desmotivados, só lhes resta um caminho: sair da PSP logo que surja uma oportunidade!

 SPP-PSP
Leonel Silva

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