11/08/2010

Polícias morrem 11 anos mais cedo que o resto da população


Polícias morrem 11 anos mais cedo que o resto da população

Um estudo mandado realizar pela Direcção Nacional da PSP conclui que a esperança de vida dos agentes é de 67,5 anos, menos 11 que a média geral da população. Estes resultados foram até agora mantidos em segredo numa altura em que os sindicatos se batem contra o aumento da idade da reforma.
 
A esperança média de vida de um agente da PSP é de 67,5 anos. A conclusão é de um estudo realizado pelos serviços sociais daquela força segurança, a pedido da respectiva Direcção Nacional. O documento revela, assim, que os agentes morrem 11 anos mais cedo do que a média geral da população, cuja esperança de vida é de 78,7 anos.
 
Numa altura em que os sindicatos daquela classe profissional se batem contra o aumento da idade da reforma, que o Governo quer fixar nos 60 anos e 40 anos de serviço, o relatório tem estado escondido. Até o próprio Ministério da Administração Interna (MAI) garante desconhecê-lo. A PSP não respondeu aos pedidos de esclarecimento do DN.
 
O estudo realizado pelos serviços sociais envolveu uma amostra de três mil agentes de várias gerações, estando a sua cientificidade atestada. Trata-se de um documento fulcral para os sindicatos que, neste momento, tentam negociar com o MAI a idade da reforma.
 
Os agentes alegam que a sua profissão, sendo exercida por turnos, e em constante stress, se torna altamente desgastante. Por isso, defendem o acesso à pré-aposentação aos 55 anos ou 36 anos de serviço. O Governo quer aquele "ou" substituído por um "e". A agravar o cenário, a tutela quer também que, em 2014, todos os polícias estejam equiparados aos funcionários públicos, avançando a pré-aposentação para os 60 anos, sendo de prever que a reforma venha a ser apenas aos 65 anos.
 
O MAI diz desconhecer o estudo. No entanto, o DN sabe que a Associação Sindical dos Profis-sionais da Polícia (ASPP), nas rondas de negociações com a tutela sobre o novo estatuto profissional, tem referido a existência de dados que apontam para uma esperança de vida 11 anos menor que a restante população, considerando "injusto" que isso não seja tido em conta para a reforma. O MAI não tem mostrado sensibilidade perante o argumento, alegando a inexistência de estudos científicos.
 
O DN sabe que o próprio director nacional da PSP, superintendente-chefe Oliveira Pereira, admitiu referir o relatório no seu discurso, a 2 de Julho, no dia da cerimónia que assinalava o 143.º aniversário da corporação. Mas, depois, terá recuado. No entanto, não deixou de fazer uma alusão: "Reconheço que as vossas funções causam um elevado desgaste e uma angústia permanente pelas ameaças envolventes e constantes e pelo risco da própria vida." E terminou: "Exorto-vos a terem esperança e confiança no futuro." Sobre a esperança de vida, nada disse.
 
Contactado pelo DN, o presidente da ASPP, Paulo Rodrigues, admitiu ter falado no assunto nas reuniões com o MAI, frisando, contudo, nunca ter aludido directamente ao estudo dos serviços sociais.
 
Porém, reconhece que nesses encontros terá argumentado a injustiça social que significa uma reforma anos 60 anos quando só sobram sete anos e meio, em média, para descansar uma vida de trabalho. "Só este Governo não vê o desgaste a que estamos submetidos no dia-a-dia", disse ao DN António Ramos, presidente do Sindicato dos Profissionais de Polícia (SPP/PSP). Só desde 2006, recorde-se, os polícias deixaram de se reformar aos 55 anos e 36 anos de serviço.
 
Licínio Lima

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