18/08/2010

Chefes tóxicos há muitos. Importa é não se deixar contaminar

O veneno é diferente em homens e mulheres: elas são passivas-agressivas, eles usam o bullying
"Penso que ela é bipolar" são as primeiras palavras de Maria (nome fictício), 30 anos, em tempos fisioterapeuta numa clínica de Lisboa. A chefe "jogava com o lado psicológico das pessoas. Estava sempre a dizer que aquele era o melhor sítio para trabalhar e onde se pagava melhor". Era frequente entrar na clínica de manhã aos gritos. "Dizia que eu e as minhas colegas éramos burras, selvagens e incompetentes. Isso deixava- -nos inseguras", lembra. "E ainda dizia que tinha de nos dar cocaína ao pequeno-almoço para conseguirmos trabalhar."

A chefe de Maria, tal como, para pegarmos num exemplo conhecido, a personagem de Meryl Streep em "O Diabo Veste Prada", são aquilo que se denomina por "chefe tóxico" - um veneno cada vez mais comum.

O problema está a alastrar-se por causa do stress e da competitividade que o estado da economia anda a depositar no espaço de trabalho, defende a especialista em carreiras e autora de "Girl on Top" (Barnes & Noble).

Um chefe tóxico é muito mais do que um mau chefe. Enquanto o segundo espera que se mate a trabalhar, o primeiro também se entretém a fazer-lhe a vida negra. Diminui-lhe a auto-estima, pressiona-o ao limite e aumenta a sua insegurança de forma tão intensa que estes sentimentos deixam de estar confinados às questões profissionais e alastram para outras esferas .

eles e elas A toxicidade na liderança afecta tanto homens como mulheres. As armas é que diferem, explica Ana Verdasca, doutorada em Sociologia Económica e investigadora da Universidade Técnica de Lisboa. "As mulheres são passivas-agressivas, recorrendo a boatos, mentiras e denegrindo a imagem dos subordinados. Os homens são mais directos, recorrendo ao bullying cara-a-cara e ao insulto."

A chefe de Maria é um bom exemplo. "Houve uma altura em que tive de meter baixa porque estava com um problema grave no olho. Quando regressei, senti que os pacientes estavam com medo de serem tratados por mim", conta. "De início não entendi o que se passava. Só mais tarde vim a saber que a minha chefe tinha andado a dizer mal de mim à clínica inteira."

Pedro, que prefere não dar o nome completo, também foi alvo de contaminação por um superior tóxico. "Trabalhava 12 horas por dia e o meu chefe estava sempre a enviar-me emails de pressão, dizendo que me sentia desmotivado", explica o engenheiro civil de 32 anos. "Não pagava aos fornecedores, estava cheio de dívidas e dizia que as obras não corriam bem por culpa minha", continua. "Queria que mentisse aos fornecedores. Foi quando lhe respondi que nada podia correr bem porque ele não pagava. Até homens das cobranças difíceis lá foram."

A confiança é essencial para o sucesso profissional. Assim que o seu chefe começar destruí-la, é tempo de pensar no que é aceitável para si e, caso seja necessário, mudar de emprego, recomenda Nicole Williams. Tem de escolher entre a sua sanidade mental e ceder aos caprichos do chefe. Mesmo em tempos de crise, deverá sempre optar pela primeira. Foi o caminho que Maria e Pedro escolheram. Maria trabalha agora por conta própria e diz que foi "a melhor decisão que podia ter tomado". Pedro está numa empresa melhor e sente-se "valorizado" pelo que faz. 

1 comentário:

  1. Este deve ser um problema generalizado, junto das chefias da PSP:)

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