20/05/2015

Pobres polícias

Pobres polícias que tanto acreditaram e não mereciam tamanha canalhice.

Há quatro anos, quando começou a campanha eleitoral, os partidos que venceram as eleições, desfraldaram não sei quantas bandeiras de reformas consideradas fundamentais. Choveram promessas e compromisso de honra jurados até aos confins da exaltada vontade de mudar Portugal. Entre tantas promessas, houve uma que levantou ruído e, ao mesmo tempo, esperança. Tratava-se da grande reforma das polícias, segundo as denúncias gritadas, maltratadas pelos governos anteriores, e que agora, sim, agora!, iriam ter o reconhecimento profissional que desempenho tão difícil merecia. Fiz parte daqueles que embarcaram na ilusão. Há muito que as carreiras da PJ, da PSP e da GNR, assim como os seus estatutos profissionais, merecem uma revisão profunda, assim como a distribuição de competências específicas e territoriais e de articulação nas ações de prevenção e repressão. Era da mais elementar justiça olhar de perto as expectativas e necessidades destes cerca de quarenta e cinco mil homens e mulheres que garantem a nossa proteção e segurança. E por ela vão morrendo. A primeira desilusão chegou quando me deram acesso aos modelos de reorganização. Fiquei chocado. Uma hierarquia piramidal militarista incorporava todas as polícias numa salgalhada que confundia conceitos básicos, tais como segurança e prevenção, e teci várias críticas que, por serem de uma conversa privada, aqui não reproduzo. Porém, a ilusão não se desmoronou porque essa reunião concluíra com a indicação de que iriam proceder a alterações significativas e mais tarde se falaria sobre o produto final. E lá marchei, entusiasmado, tecendo loas à coragem para tão grande desafio, essencial para a modernização das instituições policiais e segurança dos cidadãos. Nos dois primeiros anos de mandato do governo ainda esperei pela celebrada reforma. Depois desconfiei que era mais uma treta. Esta semana que passou, viemos a saber pela boca da ministra que não há reforma nenhuma. Bom, diga-se, em abono da verdade que não há reforma, nem pingo de vergonha, pois não se brinca, mente, manipula a vida de quarenta e cinco mil homens e mulheres sem respeito, sem qualquer consideração e com desprezo imerecido. Pobres polícias que tanto acreditaram e não mereciam tamanha canalhice.

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