17/03/2010

Agente da PSP nunca tinha feito tiro com a sua pistola 

O Sindicato dos Profissionais de Polícia da PSP garante que o agente que matou o "rapper" Nuno Rodrigues nunca teve instrução de tiro com a arma com que disparou. A família não se conforma e já marcou uma manifestação frente à divisão da PSP de Benfica.
O comentário ao JN de António Ramos, presidente do SPP, surgiu na sequência do disparo mortal que atingiu o "rapper" Nuno Rodrigues, de 30 anos, conhecido como "MC Snake", na madrugada de anteontem, perseguido pela Polícia depois de não ter parado numa operação stop, na zona das Docas, em Lisboa. O Comando da PSP de Lisboa não quis prestar declarações sobre esta matéria.
De acordo com António Ramos, o agente em causa tinha como arma de serviço a Walther P99, com a qual fez o disparo mortal, mas a sua instrução tinha sido feita com a HK USP, uma arma também de 9 mm, mas com um sistema de segurança completamente diferente e com a qual nunca tinha tido instrução de tiro. "O agente não estava familiarizado com a sua arma de serviço e isso pode ter consequências", salientou António Ramos.
O presidente do SPP adianta "ter estado já a falar com o agente e ele já naturalmente muito em baixo. Está com 15 dias de baixa psicológica e sob assistência clínica". E ao que o JN soube, o agente encontra-se na zona do Porto, de onde é originário e tem residência de família.
O dirigente sindical alerta que é preciso que o Governo e a Direcção Nacional da PSP "apostem mais na formação". Mesmo no tiro, o treino "não é ainda suficiente e a nova pistola (Glock) ainda não chegou a toda a gente", aponta. o sindicalista salienta ainda que "há uma enorme falta de recursos humanos - não há instrutores suficientes para o tiro - o que significa também uma formação mais deficiente".
Paulo Rodrigues, presidente de Associação Sindical dos Profissionais de Polícia (ASPP), bate na mesma tecla, mas sem esquecer que é preciso também ter "um maior cuidado na selecção" dos efectivos. E sustenta que o tempo da formação é curto face às exigências. "Independentemente da estatística criminal, a verdade é que o trabalho do agente na rua é cada vez mais exigente", aponta o presidente da ASPP.
Para Rodrigues seria necessária "uma maior aposta no estágio dos novos agentes junto dos elementos com mais experiência e que haja também mais motivação".
Concentração no domingo
Entretanto, os familiares de Nuno Rodrigues preparam-se para realizar uma acção de protesto frente à Divisão de Benfica da PSP, dando conta de uma revolta que se estende a todo o bairro de Chelas, onde residia a vítima e à comunidade do hip-hop. O encontro está agendado para domingo de manhã, dia 21, e será marcado por "um minuto de silêncio em memória do Nuno", acrescentou Jorge Rodrigues, irmão da vítima. "Apelamos a que quem for leve uma t-shirt branca e uma rosa branca. É um sinal de paz", disse.
Mas com paz ou não a verdade é que a família não desiste de querer justiça. O advogado Garcia Pereira já confirmou a JN ter aceite o patrocínio da família do "rapper". "É verdade, confirmo. Vamos ficar com o caso aqui no escritório, eu e o meu colega Paulo Santos", adiantou o causídico.

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