25/12/2010

Vício: Mais de 100 polícias pediram ajuda para deixar o álcool

Só no Gabinete de Psicologia do SPP caíram cem pedidos de auxílio de agentes. A Direcção Nacional teve 12 pedidos e na ASPP estão a ser acompanhados três casos. Nos jovens deslocados o isolamento é a causa

No Gabinete de Psicologia da ASPP/PSP, a maior associação sindical da polícia, está a ser acompanhado há já um ano um agente de 52 anos, natural da Guarda, por ter um problema crónico com o álcool. Fruto do meio sociocultural em que cresceu, habituou-se a beber aos 15 anos, continuou a beber no serviço militar e pela vida fora. Já teve vários problemas de saúde derivados do álcool. Saiu de casa, deixou a família, voltou. Um crescendo de degradação ao ponto de ter sido alvo de vários processos disciplinares abertos pela PSP. Continua ao serviço da polícia, mas a instituição colocou-o numa função em que está afastado do público. Nos últimos quatro anos recorreu ao apoio de vários psicólogos até chegar a Ana Rita Robalo, psicóloga de serviço no gabinete da ASPP/PSP.
Este caso não é único. Este ano, entre os três gabinetes de psicologia (ASPP, SPP e Direcção Nacional) contactados pelo DN contam-se pelo menos 115 pedidos de ajuda de agentes, chefes e oficiais por causa do álcool. O consumo excessivo "aumentou muito desde Outubro". É, pelo menos, esta a experiência de Sandra Coelho, coordenadora do Gabinete de Psicologia do Sindicato dos Profissionais de Polícia (SPP). "Este ano tivemos cerca de cem pedidos de ajuda, uns por parte dos próprios agentes, chefes ou oficiais, outros feitos pelos seus familiares", referiu a psicóloga ao DN.
Neste momento, o Gabinete de Psicologia do SPP tem "20 famílias em atendimento". Os agentes e os seus familiares seguem um programa de apoio psicológico para ajudar a ultrapassar o recurso ao álcool como escape para os problemas pessoais ou da profissão. "Não são casos de alcoolismo. São profissionais que têm a consciência de que, fora dos seus turnos laborais, estão a consumir álcool em excesso."
Já a Divisão de Psicologia da Direcção Nacional da PSP recebeu este ano "12 solicitações de elementos policiais quanto a quadros de comportamentos abusivos (álcool)". Encontram-se em acompanhamento psicoterapêutico oito elementos, adiantou ao DN o comissário Paulo Flor, porta-voz da Direcção Nacional da PSP. O menor número de casos por comparação com os que chegaram ao Gabinete do SPP tem explicação para Sandra Coelho: "No gabinete da Direcção Nacional os agentes têm de ir fardados às consultas e torna-se mais intimidador."
O perfil etário dos profissionais da PSP que procuram ajuda por causa do abuso do álcool é transversal. "Temos pacientes dos 20 aos 60 anos", refere a psicóloga Sandra Coelho. "Há cerca de três anos eram sobretudo os agentes ou chefes na meia-idade, com 40 e tal anos, que nos procuravam. Agora temos vindo a registar uma procura por parte de polícias de todas as idades, embora com maior incidência nos jovens."
Segundo a psicóloga do SPP, "são os agentes jovens deslocados para Lisboa do interior norte do País os que mais procuram ajuda". O isolamento a que ficam sujeitos aliado ao afastamento das mulheres e filhos são factores que contribuem para "desgosto, choro, tristeza, depressão e refúgio no álcool".
O Gabinete de Psicologia da ASPP/PSP acompanha apenas três casos. Para além do agente de 52 anos já referido, os outros dois são agentes com 33 anos "que também estão a ser orientados por uma instituição para se desabituarem do consumo, e que abusaram do álcool por problemas pessoais, nada relacionados com a profissão", adiantou Paulo Rodrigues, presidente da ASPP. Prevenir é mesmo o melhor remédio.

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