03/01/2011

Polícias denunciam más condições das esquadras

Em muitas esquadras falta privacidade para a apresentação de denúncias e há muitos agentes da PSP a trabalhar em situações degradantes.
(...) Ao lado do graduado, outro polícia sugere à mulher zangada: “Olhe porque é que não apresenta uma reclamação?”

“Não, estou a ver que com estas condições vocês não podem fazer melhor. Mas é incrível, pá”

“Estou a falar a sério”, diz o polícia.”É que as reclamações podem ajudar a melhorar as coisas”

“Não há privacidade nenhuma para os cidadãos apresentarem denúncias, não há condições para os polícias trabalharem”, diz ao PÚBLICO, um dos agentes colocados na esquadra dos Olivais.

“O problema é que é assim na grande maioria das esquadras” assegura Peixoto Rodrigues, do Sindicato Unificado da Polícia (SUP). “Há esquadras com condições péssimas, que não são adequadas nem para a polícia exercer a sua actividade nem para receber o cidadão. Esquadras que, inclusivamente, já tiveram, várias vezes, ordem para fechar”.

Segundo afirma, a maior parte dos polícias vem de fora de Lisboa e muitos dormem em camaratas nas esquadras que, frequentemente não possuem condições para um bom descanso.

Um dos operacionais da intervenção rápida e investigação da PSP dos Olivais, confirma que é precisamente o que se verifica lá, já que o barulho e movimento permanente na esquadra, não deixa que os polícias descansem”.

“Com estas condições, ninguém fica satisfeito”, afirma Peixoto Rodrigues. “Nem os polícias, nem os cidadãos”.

Num barracão, em Almada

A falta de condições acrescenta-se ao risco em que tantas vezes trabalham.

Na freguesia dos Olivais os polícias ocupam-se sobretudo das queixas de furtos no interior de veículos, de furtos de esticão e da investigação de assaltos a casas. E queixam-se dos baixos ordenados.

Segundo Peixoto Rodrigues, um agente da PSP em início de carreira, ganha cerca de 800 euros. Com os gratificados (trabalho extra) pode conseguir mais 350 ou 400 euros. O ordenado de um chefe é de cerca de 1200 euros. “Os polícias são sempre associados e violência a abusos mas não passa na cabeça de muita gente, as dificuldades em que tantos deles vivem”, afirma.

Mas não é apenas nas esquadras que há más condições de trabalho para muitos dos 22 mil agentes da PSP.

Em Almada, num barracão com cerca de oito metros quadrados, um polícia faz vigilância a um parque de carros rebocados. Depende da Divisão da PSP de Almada. Da polícia, tem apenas os telefones. O resto, foi oferecido por amigos: uma secretária que também serve de mesa para comer, uma marquesa para dormir quando faz os turnos da noite, alguma louça. Uma televisão, para se distrair. O parque é isolado e os turnos são de oito horas. À noite é pior. A esquadra mais próxima fica a 12 quilómetros.

No parque, há centenas de carros rebocados que ninguém vai buscar e apreendidos pelos tribunais, no âmbito de processos crime. Muitos pertencem a traficantes. “Se um dia alguém se lembra de cá vir, é um problema”, diz um dos cinco agentes que, por turnos, vigiam o parque.

“Mas ninguém quer saber”, afirma. “Nem o oficial de dia vem cá ver isto”.

Nota: A PSP não autorizou o PÚBLICO a permanecer numa esquadra de Lisboa para recolher elementos de reportagem, alegando “razões de ordem operacional”. Por esse motivo é omitida a identificação das pessoas que prestaram depoimento para o artigo.

Sem comentários:

Enviar um comentário